A Origem da Cruz de Caravaca
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A Cruz de Caravaca consiste num fragmento de madeira que, segundo a lenda, terá sido tirado da cruz em que Cristo morreu. Este fragmento do Santo Lenho encontra-se, desde o século XIII, na cidade de Caravaca, situada na província de Múrcia, na Espanha. A relíquia é conservada dentro de um relicário que mudou de aspecto várias vezes ao longo dos séculos. A sua forma atual e mais conhecida caracteriza-se por ter dois braços horizontais. No topo da Cruz encontra-se a inscrição INRI (do latim Iesus Nazarenus Rex ludeorum, ou seja, Jesus de Nazaré Rei dos Judeus) e é suportada por dois anjos que a seguram pelo braço inferior, numa alusão ao milagre da sua aparição.
Segundo a tradição, o fragmento original que constituiu essa relíquia veio ter às mãos do primeiro Bispo de Jerusalém, após a conquista da cidade pela Primeira Cruzada, em 1099. Não se sabe como, no decorrer dos dois séculos que se seguiram, o fragmento acabou na Espanha, no Castelo de Caravaca. A tradição popular explica o seu aparecimento através do conhecido Milagre da Aparição.
O Milagre da Aparição
Ao longo dos séculos de XII a XIV, a região de Múrcia foi uma área fronteiriça entre o reino cristão de Castela Leão e o reino muçulmano de Granada. As batalhas de conquista e reconquista eram bastante frequentes. Cerca do ano 1230, a cidade de Caravaca foi tomada pelas tropas muçulmanas e a população foi feita prisioneira. O dirigente muçulmano Muhammad ben Yaquib, homem de valor e inteligência, quis conhecer melhor os seus prisioneiros. Indagou sobre as suas profissões e, ao encontrar um missionário, o padre Ginés Pérez Chirinos, quis saber como era o culto religioso cristão. O sacerdote dispôs-se a celebrar uma missa, mas no meio da devastação não havia uma cruz que pudesse ser posta no altar. Foi então que se deu o milagre: apareceram pelo ar dois anjos, trazendo consigo uma cruz e depositando-a sobre o altar.
Durante os séculos que se seguiram, a Cruz de Caravaca ganhou notoriedade, graças a numerosos milagres que lhe foram atribuídos. De início era considerada proteção divina da terra cristã contra os "infiéis" mas rapidamente a relíquia passou a proteger os habitantes locais de toda a espécie de perigos, tivessem eles origens humanas ou naturais.
A peregrinação à Cruz de Caravaca começou quando os cavaleiros da Ordem do Templo estabeleceram uma fortaleza na cidade, bem como uma hospedaria junto à Igreja que guardava a relíquia. Essa hospedaria foi rapidamente adotada pelos ex-cativos que escapavam aos muçulmanos e que vinham à cidade agradecer a sua libertação à Santa Cruz. Graças a estes primeiros peregrinos, bem como aos missionários e aos soldados em movimento, a fama da relíquia estendeu-se por toda a Península Ibérica.
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A Cruz de Caravaca permaneceu na cidade da sua aparição até que, fatalmente, em 1934 (na Quarta-feira de Cinzas) a relíquia foi roubada e nunca mais se soube do seu paradeiro. Depois da guerra civil espanhola (1936-1939), com o estabelecimento do regime ditatorial de Franco, o castelo foi usado como cadeia para presos políticos, até que foi encerrado e abandonado em 1941.
A Cruz de Caravaca que atualmente se encontra na cidade foi doada pelo papa Pio XII e compõe-se de um relicário feito à imagem do relicário roubado e de dois pequenos fragmentos do Santo Lenho que Santa Helena (mãe do Imperador Constantino) trouxe de Jerusalém para Roma na primeira metade do século IV.
São realizadas anualmente em Caravaca duas grandes festas em homenagem à Santíssima Vera Cruz: o Quinário de Exaltação (desde o dia 10 até o dia 14 de Setembro) e a Festa da Aparição (entre os dias 1 e 5 de Maio). As festas são compostas por eventos religiosos - procissões, orações coletivas e missas - e eventos profanos, tais como desfiles e encenações dos combates entre mouros e cristãos. São também tradicionais rituais de fertilidade como a "Bênção dos Campos e do Povo", feito durante o Quinário da Exaltação, em que o capelão apresenta a Cruz aos quatro pontos cardeais das muralhas.
A Festa da Aparição, também chamada "Festa da Cruz dos Mouros, Cristãos e Cavalos do Vinho" é uma importante festa de peregrinação e consiste em onze rituais, quase todos envolvendo diretamente a Cruz de Caravaca.
- Dia 1 de Maio é feita a "Oferenda das Flores" à Cruz, habitualmente acompanhada da entrega de pequenas cruzes aos novos membros da paróquia.
- Dia 2 de Maio é celebrada a "Missa da Aparição" na Capela do Banho, onde se situa o tanque com água para ser abençoada durante os festejos.
- Também no dia 2 de Maio, é realizado o "Banho de Vinho e Flores" que consiste no banho da Cruz e que é um ritual com raízes nas antigas festividades agrícolas de consagração da Primavera, com a bênção do vinho da colheita anterior e das flores da nova estação.
- Decorre ainda o "Desfile dos Cavalos do Vinho" composto pelos "Mouros" e pelos "Cristãos" seguidos pelos seus cavalos ricamente adornados com capas e fitas coloridas. Este desfile é um ritual evocativo de um dos inúmeros episódios das guerras entre mouros e cristãos. Diz a lenda que, durante um dos cercos sofridos pela cidade, se acabou a água dos reservatórios. A população escolheu um grupo de homens, cavaleiros valorosos, para sair da cidade levando odres e romper o cerco inimigo em busca de água. Ao que consta, os cavaleiros conseguiram romper o cerco, mas não encontraram água - encontraram, isso sim, abundantes depósitos de vinho. Ao retornar à cidade carregados com o seu achado, tornaram a romper o cerco e entraram no castelo em festa, celebrando a sua sorte e enfeitando os seus cavalos com as suas capas em agradecimento de os terem ajudado a levar a cabo tal façanha.
- É ainda realizada a "Procissão da Descida da Cruz", em que a relíquia percorre o caminho desde a capela até à sede paroquial, levada nos ombros pelos "Mouros" e "Cristãos".
- No dia 3 de Maio, celebra-se o aniversário do Milagre da Aparição, decorrendo uma "Missa Solene" e, da parte da tarde a "Procissão do Lavatório" em que se leva a Cruz, mais uma vez com o acompanhamento de "Mouros" e "Cristãos", desde a paróquia do Salvador até à Capela do Banho.
- Tradicionalmente é realizado na praça diante da Capela o "Combate entre Mouros e Cristãos", ao que se segue o ritual do "Banho da Cruz" no tanque e a bênção da água. O "Banho da Cruz" é o momento mais importante dos festejos e foi criado em 1384, o ano em que, segundo relatos antigos, houve uma grande praga de gafanhotos que devastou as colheitas e que resistia a todos os tratamentos conhecidos. As populações da região decidiram enviar os seus representantes a Caravaca, pedindo ao padre que banhasse a Cruz de Caravaca em água que eles levariam para benzer as suas terras. Diz a memória do povo que a água benta pela Santa Cruz fez desaparecer os gafanhotos em três dias. Desde então persiste a tradição de banhar a Cruz no tanque, donde as pessoas depois podem tirar um pouco e levar para abençoar as suas plantações, livrando-as de pragas e tornando-as mais férteis e produtivas.
- Nos dias 4 e 5 de Maio, pela manhã, a relíquia cumpre o ritual da "Cruz dos Inválidos", em que é levada em procissão a todas as casas onde estejam pessoas doentes ou inválidas.
- Tradicionalmente é realizado na praça diante da Capela o "Combate entre Mouros e Cristãos", ao que se segue o ritual do "Banho da Cruz" no tanque e a bênção da água. O "Banho da Cruz" é o momento mais importante dos festejos e foi criado em 1384, o ano em que, segundo relatos antigos, houve uma grande praga de gafanhotos que devastou as colheitas e que resistia a todos os tratamentos conhecidos. As populações da região decidiram enviar os seus representantes a Caravaca, pedindo ao padre que banhasse a Cruz de Caravaca em água que eles levariam para benzer as suas terras. Diz a memória do povo que a água benta pela Santa Cruz fez desaparecer os gafanhotos em três dias. Desde então persiste a tradição de banhar a Cruz no tanque, donde as pessoas depois podem tirar um pouco e levar para abençoar as suas plantações, livrando-as de pragas e tornando-as mais férteis e produtivas.
- Nos dias 4 e 5 de Maio, pela manhã, a relíquia cumpre o ritual da "Cruz dos Inválidos", em que é levada em procissão a todas as casas onde estejam pessoas doentes ou inválidas.
- Finalmente, na tarde do dia 5 de Maio é realizado o último ritual, nomeadamente a "Procissão da Subida", que leva a Cruz de volta para o seu santuário e em que se abençoa a natureza e os campos, de forma semelhante à realizada em Setembro.
Modo de Usar a Citada Cruz
Segundo a tradição, deve-se levá-la junto ao corpo. Colocar-se-á em quadro ou nas portas dos quartos ou outro qualquer local da casa. Em caso de enfermidade, pode-se pôr na parte enferma do corpo. Beijando-a, ganham-se muitíssimas indulgências.
Em todas as ocasiões em que se deve fazer uso da citada cruz, rezam-se cinco Glórias ao Pai à Paixão de Jesus Cristo, três Ave-Marias à Virgem Santíssima e um Pai-Nosso a São Benito, cujas preces se aconselha mais abundantemente o fruto desta devoção.Isto se tirou do Livro II da vida de São Benito, escrito por São Gregório, Papa e Doutor.
E dizendo cada dia, diante da mencionada cruz, a seguinte oração de São Benito, revelou este Santo a Santa Gertrudes que o assistira à hora da morte, para se opor poderosamente a todos os ataques e poder infernal do inimigo, do devoto que a houvesse rezado diariamente.
E Clemente XIV concedeu indulgência plenária ao que cada vez a rezou.
Em Caravaca, a oferta de uma réplica da Cruz de Caravaca simboliza afeto e o desejo de paz e amor entre as pessoas.
A Santa Cruz de Caravaca também tem o reconhecimento oficial da Igreja.
Desde o século XIV, diversas bulas e decretos Papais concederam indulgências aos peregrinos de Caravaca.
Em 1736, foi dado ao culto da Vera Cruz o status de Latria (do grego latreia, adoração), o que o equipara em importância ao culto do Santíssimo Sacramento. Em 1583, 1621, 1768 e 1893 foram concedidos Jubileus para as festas da Cruz de Caravaca: foi determinado que receberia Indulgência Plenária todo aquele que visitasse o Santuário no dia 3 de Maio desses anos e aí rezasse pela paz.
No século XX foram concedidos dois jubileus, que provocaram grande revitalização das peregrinações a Caravaca: o primeiro foi em 1981, ao se comemorarem os 750 anos da Aparição da Cruz; o segundo foi em1996, a pedido da Real e Ilustre Confraria da Santíssima e Vera Cruz.
Desde o início do século XIX, a relíquia da Vera Cruz de Caravaca passou por muitas vicissitudes.
A primeira foi a necessidade de sua transferência para a paróquia do Salvador, onde permaneceu escondida durante a invasão francesa (de 1809 a 1818), enquanto o Castelo de Caravaca voltava a ter uso militar.
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