“Os golpes do amigo são leais, mas o inimigo é pródigo em beijos.” Provérbios 27:6
Este é um aspecto desagradável da intimidade: o amor faz as pessoas perderem a cerimônia. Quando amamos alguém, queremos aprofundar a relação. A Bíblia nos diz que “o inimigo é pródigo em beijos”, o que significa que os inimigos são amáveis com pessoas de quem não gostam apenas para defender seus próprios interesses. Falta sinceridade a seus beijos, e eles exageram em suas manifestações para encobrir os reais sentimentos.
Mas “os golpes do amigo são leais “porque amigos são sinceros e dizem a verdade, mesmo que às vezes isso magoe. O problema é como sermos “verdadeiros” quando somos feridos por alguém que amamos. Muitas vezes, ao querermos ser sinceros a respeito de nossos sentimentos feridos, achamos que podemos magoar quem nos agrediu.
Para amar alguém de verdade é preciso aceitar a própria vulnerabilidade. Tirar a máscara superficial, politicamente correta, e deixar que o outro nos veja como somos realmente. Isso é necessário no amor.
No entanto, ser vulnerável é também correr o risco de ser ferido profundamente. Quando isso acontece, somos capazes de dizer e fazer coisas prejudiciais de forma violenta com as pessoas mais próximas. É nesse momento que magoamos aqueles que mais amamos. O modo como falamos com alguém e tão importante quanto o que estamos tentando dizer.
Donna e Michael procuraram a terapia de casal por causa das constantes brigas, uma das razões que geralmente levam os casais à psicoterapia. As pessoas se casam porque se sentem atraídas pelas características do outro, que são diferentes das suas. Mas, com o passar do tempo, essas mesmas características começam a irritar e provocam um enorme desgaste. Era o caso de Donna e Michael. - A terapia não está funcionando. Ele não mudou nada - queixou-se Donna no início de nossa quinta sessão. - Do que é que você precisa? - perguntei.
Percebi que eu teria que ser firme para não perder o controle da sessão. Procurar a terapia para tentar mudar o parceiro é um erro cometido pela maioria das pessoas que estão precisando de ajuda. Eu queria que cada um dos dois permanecesse focado em suas próprias necessidades e sentimentos e que não caíssem na armadilha de se acusarem mutuamente, o que é inútil e destrutivo.
- Eu preciso que ele pare de mentir! - respondeu Donna enfaticamente. - Acusações não vão ajudar - eu disse com firmeza. - Então tente falar dos seus sentimentos e não do que está errado com Michael. - Tudo bem. Eu sinto que ele precisa parar de ser mentiroso - ela afirmou com uma certa rispidez. - Isso não é um sentimento - repeti. - O que você está sentindo neste exato momento?
A expressão do rosto de Donna mudou. Notei que ela tentava entender o que eu dizia. Estava acostumada a falar dos defeitos do marido e não a expressar seus próprios sentimentos. Mas atacar o caráter dele não a levava a lugar algum, e eu pretendia oferecer algumas ferramentas para ajudá-la. - Sinto medo - falou com os lábios trêmulos. - Michael me disse que eu podia sair do emprego porque ele cuidaria de nós financeiramente, e agora eu descubro que estamos devendo 80 mil dólares. Como você acha que eu me sinto? Estou apavorada, com medo de perder tudo o que temos - completou, irrompendo em lágrimas.
- Michael - falei calmamente, dirigindo-me a ele. - Você sabia que Donna se sentia assim? - Bem, não - respondeu Michael, olhando para seus sapatos. - O que eu sabia é que ela estava furiosa, e eu detesto conversar quando ela está com raiva. - E o que você sente ao ouvir isso agora? - perguntei. - Eu me sinto muito mal, porque vejo que ela está assustada - ele respondeu com mais segurança. - Não quero que minha mulher sinta medo. Fizemos uma segunda hipoteca para termos uma reserva quando precisássemos, e eu usei o dinheiro para pagar a construção da casa. Estou com os pagamentos em dia. Não menti para ela, só achei que cabia a mim cuidar das finanças, é exatamente o que estou fazendo. Peço desculpas se não avisei que estava sacando dinheiro da reserva. Achei que você queria deixar esses assuntos por minha conta.
Realmente Donna e Michael se amavam muito. Mas, quando alguém que amamos nos magoa, sentimos muita raiva. Donna estava com raiva de Michael porque precisava se sentir segura com o homem que amava. Estava furiosa porque desejava confiar nele e não conseguia. Mas Michael não conseguia captar a mensagem. Tudo o que ele ouvia era que a mulher não confiava nele e que ele era um fracasso como marido. Michael amava Donna e queria cuidar dela. Trabalhava muito para sustentar a família a que se dedicava inteiramente. Donna, porém, não entendia assim. A mensagem que ela captava era que ele estava escondendo algo e que talvez pensasse em abandoná-la.
Com o tempo, Donna e Michael pararam de ferir um ao outro. Donna deixou de atacar o marido, e Michael abriu-se com ela de um modo que a fez se sentir segura. Agora eles veem que o modo de falar com alguém é tão importante quanto o que você esta querendo dizer. A raiva e a desconfiança só criam afastamento.
Donna e Michael desejavam ficar próximos - só precisavam de uma ajuda para alcançar isso. Qual é sua expectativa em relação ao seu casamento? Você acha que seu parceiro nunca vai cometer uma falha? Que você nunca vai se magoar? Se pensar assim, sofrerá uma grande decepção.
O importante é acreditar que você está com alguém que não deseja feri-lo, mas que, ainda assim, é capaz disso, porque é um ser humano. Alguém que deseja construir uma relação de companheirismo e cumplicidade. Uma pessoa capaz de pedir desculpa e de se empenhar para não repetir o comportamento que o magoou. E isso que os amigos fazem, e esta é a razão pela qual a Bíblia diz que os golpes do amigo são leais. Não se esqueça que amigos falam uns com os outros baseados no respeito e na certeza de que são amados, mas não com a intenção de ferir. Não há nada melhor do que construir um verdadeiro relacionamento amoroso com alguém que é ao mesmo tempo amante e amigo.
(Fonte: Como Deus cura a Dor - Mark W. Baker)

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